Cerrado perdeu área de vegetação nativa maior que o estado de Goiás em 39 anos

Perda equivale a 27% da vegetação original do bioma, que hoje tem quase metade de sua extensão transformada por atividades humanas


Por Rota Araguaia em 05/09/2024 às 08:31 hs

Cerrado perdeu área de vegetação nativa maior que o estado de Goiás em 39 anos
Thomas Bauer/Instituto Sociedade População e Natureza - Arquivo

Redação

Entre 1985 e 2023, o Cerrado brasileiro perdeu 38 milhões de hectares de vegetação nativa, uma área maior que o estado de Goiás, que tem 340,2 mil km². Essa perda representa 27% da vegetação original do bioma, que atualmente tem quase metade de sua extensão (48,3%) transformada por atividades humanas, como pastagens e agricultura. O levantamento, realizado pelo MapBiomas, destacou que restam 101 milhões de hectares preservados, o equivalente a 8% de toda a vegetação nativa do Brasil.

As atividades agropecuárias foram os principais vetores de destruição no Cerrado ao longo dessas quase quatro décadas. A área de pastagem cresceu 62%, enquanto a agricultura teve um aumento expressivo de 529%, com a soja dominando o cenário agrícola. Atualmente, 26 milhões de hectares são ocupados pela agricultura, sendo que 75% dessa área é destinada ao cultivo de soja. O Cerrado abriga quase metade de toda a produção de soja do Brasil, com 19 milhões de hectares dedicados à cultura.

Avanço agrícola e perda de vegetação

Bárbara Costa, analista de pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), destacou que, apesar da recente redução nas áreas de pastagem, a agricultura avançou rapidamente, principalmente em áreas de planalto e chapadas, terrenos propícios para o cultivo de soja. "O avanço da agricultura foi expressivo, tanto pela intensificação das atividades em áreas já convertidas quanto pela abertura de novas áreas", afirmou a pesquisadora.

Nos últimos seis anos, o Cerrado perdeu 5 milhões de hectares de vegetação nativa, com 72% dessa destruição concentrada nos estados da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Essa região abriga 47,8% da vegetação remanescente do Cerrado, mas também se consolidou como a principal frente de desmatamento do bioma. Municípios como Bom Lugar (MA), Praia Norte (TO) e Sampaio (TO) registraram perdas significativas, chegando a 70% em algumas localidades.

Dhemerson Conciani, pesquisador do Ipam, alertou para a importância da região. "O Matopiba se consolidou como uma das frentes de desmatamento mais rápidas do mundo. É uma região sensível e vital para a segurança hídrica e climática, pois abriga os maiores remanescentes contínuos de vegetação savânica e campestre do país", explicou.

Desafios para a preservação

As propriedades privadas desempenham um papel central na preservação do Cerrado, uma vez que grande parte do bioma está sob domínio particular. A Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei 12.561/2012) exige que propriedades rurais mantenham ao menos 20% de sua área com vegetação nativa (35% na Amazônia Legal), mas o desmatamento continua avançando em áreas privadas. Segundo o levantamento, 81% da perda de vegetação nativa no Brasil ocorreu em propriedades privadas ou áreas sem registro fundiário.

A situação é agravada pelo fato de que apenas 18 milhões de hectares do Cerrado estão protegidos em Unidades de Conservação (UCs). Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas, alertou que a continuidade dessa destruição pode ter consequências diretas para o próprio setor agropecuário. "O desmatamento pode levar a um clima mais quente e seco no bioma, impactando a produção agrícola", afirmou.

Comparação com a Amazônia

A situação no Cerrado contrasta com a da Amazônia, onde há um número significativamente maior de áreas protegidas. Enquanto o Cerrado tem 18 milhões de hectares em UCs, a Amazônia conta com 122 milhões de hectares, além de terras indígenas e florestas públicas. Esses territórios protegidos têm sido fundamentais para a preservação da vegetação nativa, com menos de 1% da vegetação em terras indígenas sendo destruída entre 1985 e 2023.

A preservação das florestas públicas também tem sido efetiva, com 92% da vegetação nativa mantida durante o período, apesar das ameaças constantes. Essas áreas aguardam destinação formal pelo governo, mas têm se mostrado um refúgio crucial para a biodiversidade.

A devastação no Cerrado levanta preocupações não apenas sobre a biodiversidade, mas também sobre a segurança hídrica e climática do país, com pesquisadores e ambientalistas pedindo medidas mais rígidas para frear o desmatamento e garantir a preservação das áreas remanescentes.

*Com informações do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia



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